FMI 2005

Feira da Música Independente 2005

Na primeira década do século XXI o mercado da música passou por mudanças e revoluções que agitaram os meios de produção e difusão.

As perguntas eram: diante das novas tecnologias de informação e produção e o crescimento do mercado informal, o que aconteceria com as plataformas musicais? Chegava o fim das grandes gravadoras e o momento de consolidação de um novo mercado musical independente?

Estas perguntas foram nos últimos anos extremamente exploradas e catalisadoras de centenas de debates em todo o mundo possibilitando uma reação histórica incubada nos artistas e produtores independentes. De forma espontânea, trouxeram condições estruturais para que novos modelos de negócio e organização se articulassem a partir desta lógica independente. O histórico bordão “Do it yourself’ encontrava agora um novo horizonte na crise da grande indústria, e um grande movimento de discussão sobre o futuro da música tomou conta do Brasil. O livro, A Cauda Longa, de Chris Anderson, era uma das principais referência, e em paralelo, surgiram diversos eventos no Brasil propostos a discutir e debater este futuro. Porto Musical, Mercado Cultural de Salvador, Feira de Fortaleza, FMI (Feira da Música Independente de Brasilia) e tantos outros, fomentaram uma sequência reflexiva sobre estes novos caminhos, e o mote principal de cada um destes espaços era a pergunta: Qual o futuro da música?

Simultaneamente, uma grande mudança também acontecia no campo das políticas culturais brasileiras. O advento do governo Lula, entre tantas transformações, apontou a necessidade de descentralização simbólica e estrutural, e afirmou a necessidade de organização da sociedade civil. No Ministério da Cultura, a gestão Gil/Juca foi uma verdadeira revolução neste sentido, colocando muito mais lenha nesta fogueira reflexiva sobre os caminhos da Música no Brasil. Iniciativas como a formação das Câmaras Setoriais e posteriormente do Colegiado Setorial de Música, e a criação da Rede Música Brasil, conselho composto por 17 entidades representativas da cadeia produtiva da Música Brasileira, criaram canais de conexão direta entre o setor e o Estado, que passa a ser protagonista nesta reflexão. Temas como os Direitos Autorais e a Cultura Digital ganham centralidade dentro do Ministério, que passa inclusive a promover a Feira Música Brasil para ampliar os holofotes sobre as transformações do mercado musical e ampliar os canais de interlocução com os diversos movimentos organizados que se consolidaram nesta primeira década do século XX.

É claro que tudo isso acontecia em um ambiente que muito ainda precisa ser feito e melhorado. As dificuldades de consolidação de carreiras sustentáveis para artistas e produtores ainda é um desafio a ser superado, mas dia após dia, os debates acalorados sobre o futuro transformaram-se em um caloroso trabalho cotidiano para milhares de pessoas, que não tem estas dificuldades como um abismo intransponível, mas sim como desafios a serem superados permanentemente.

Todo este processo intenso passou também pela conexão com outros países, e ano após ano, estes contatos internacionais também contribuiram para o desenvolvimento de nossas redes. Em 2012, estas conexões se aceleraram ainda mais, e movimentos e programas internacionais além de ampliar as trocas reconheceram o trabalho desenvolvido no Brasil. Na América Latina encontramos a ADIMI (Associacion para el Dessarrolo de la Industria Musical Iberoamericana), a Redada, rede de música venezuelana que nasce inspirada na experência brasileira, a Rede de Produtoras Mulheres da Argentina, o Movimento Tocando Madera, de Cantautores da Centro América, e plataformas como o Grito Rock e a Rede Brasil de Festivais ampliam o contato entre produtores e a circulação de artistas. A América Latina, hoje muito mais conectada, passa a entender o seu papel histórico e se inspira com as possibilidades de uma nova narrativa global. Na Europa, programas como o Unconvention, da Inglaterra, reconhecem a experiência brasileira como uma nova referência, e visualizam nesta experiência uma grande referência para pensarmos os desafios de articulação do cenário independente mundial. Todas estas entidades e programas entram em 2013 muito dispostos a apresentar o modelo colaborativo e sistêmico articulado em rede, como uma nova narrativa possível para a música mundial.

Estimulados por todas estas conexões, e principalmente pelos resultados alcançados aqui no Brasil, chegou o momento de ampliar horizontes.

Todos os debates sobre o futuro da música, e todo o trabalho feito por milhares de produtores e artistas, nestes últimos anos, tecem uma nova realidade e uma nova referência. O futuro chegou! Chegou a hora, de transformarmos todo este caldeirão de experiências e reflexões numa grande ceia global da música, e o Brasil teve um papel fundamental nesta história.

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